terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O meu Pai












Alguém me perguntou uma vez se eu tinha um ídolo. Naquela altura, à muitos anos, fiquei a pensar. Hoje, inubitavelmente vos digo que sim, que tenho.
O meu pai.
Porquê hoje? E porque não?!
Não tenho palavras que descrevam o afecto, o apreço que nutro por este homem. Um homem humilde, sonhador, sensível, um homem de afectos.
Ele foi e é a minha "muleta", o meu porto seguro na tempestade, a minha rosa-dos-ventos.

Desde que entrei nesta nova etapa da minha vida que conto com o apoio inequívoco de dois homens... o meu marido e o meu pai.
O meu pai tem sído incansável no apoio que tem dado à minha família, tanto no plano afectivo como no plano prático, pois é a ele que recorro frequentemente para me deslocar, ou até para o transporte dos meus filhos. Mas não é isto que quero dizer. Quem conhece bem Gutemberg Ralha não se espanta com estas atitudes.
Quero falar-vos do meu ídolo.

Começou muito novo, com 11 anos a trabalhar, para ajudar a sustentar a família. Descalço, pintava quilhas dos barcos no rio em Alhandra. Trabalhou em muitas coisas, foi merceeiro, fez desporto, entrou para a antiga Cimento tejo, foi à tropa, aproveitou a oportunidade que lhe deram na empresa e , em busca de uma vida melhor para si e para os seus voltou a estudar. Fez a antiga escola industrial, a admissão ao liceu e foi estudar engenharia. Com muito esforço, sacrifício, sem descurar a sua família. É certo que mal o víamos, que a minha mãe segurou as pontas, que o meu pai se estafava a trabalhar na fábrica e que, muitas vezes, com apenas uma pequena bucha, lá apanhava o comboio para Lisboa.
Pai de três filhos, foi com muito suor e muitas lágrimas que acabou o curso.

Nunca perdeu de vista a sua paixão, a música. Executante de clarinete desde os 12 anos na banda da Sociedade Euterpe Alhandrense, arranjou sempre tempo para conciliar as suas obrigações. Sim, porque como ele me ensinou, ser amador também acarreta responsabilidades. Mesmo cansado ou abatido, lá segue para o ensaio da banda com um sorriso nos lábios, como nos primeiros tempos. Pelo caminho dirigiu e dirige grupos corais. Sempre com humildade, não gosta de ser chamado nem de engenheiro nem de maestro. Nunca o vi de fato e gravata a não ser quando a ocasião o exige. Na fábrica, mesmo depois de ter acabado o curso, usava fato de macaco e era tratado por Guta ou Tibé.

Ensinou-nos que todos os homens são iguais e que o Dr ou o Eng. não vem no bilhete de identidade. Ensinou-nos que na vida vale a pena lutarmos por aquilo em que acreditamos.

Nunca o vi abatido ou derrotado, embora saiba que já se tenha sentido assim tantas vezes...
Este Homem faz 72 anos dia 27 de Fevereiro. E continua a dar tudo o que tem aos outros, sem nunca pedir ou exigir nada em troca.
Obrigada, pai, por tudo o que me tens dado. Obrigada por tudo o que me ensinaste.
Desculpa se a vida mais uma vez te trocou as voltas e se continuo a precisar de ti, agora que devias viver finalmente tranquilo, sem sobressaltos. Gostava que tudo fosse diferente. Não é.
Pelo menos tenho-te a ti.
Esta é a minha singela homenagem, sentida e chorada, ao Homem da minha vida

2 comentários:

  1. o teu pai é a paz em pessoa , a serenidade com que se desloca , com que sorri ...e os olhos ...os olhos dele falam em silencio ...
    obrigado por continuaar a ser sempre o pilar dela ...

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  2. Parabéns Ao Sr Gutemberg ;) A avó Detinha tb faz anos hoje ;) Beijinhos

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