quarta-feira, 7 de março de 2012

O meu filho tem síndrome nefrítico… E agora? - Serviço de Pediatria do Hospital de Braga



O sinal principal é frequentemente a alteração da cor da urina. Os pais podem notar uma coloração avermelhada ou semelhante a "coca-cola".
O que é esta síndrome?
É uma das síndromes mais frequentes na nefrologia pediátrica e tem habitualmente uma evolução benigna. Pode ser definida por um conjunto de sinais clínicos:
- hematúria (presença de sangue na urina) - é em regra visível a olho nu, mas o facto de ser apenas visível ao microscópio não invalida a existência desta síndrome;
- proteinúria (presença de proteínas na urina);
- tensão arterial superior ao percentil 95;
- aumento de peso que se pode traduzir por "inchaço" (edemas) na cara e/ou no corpo;
- alteração nas análises da função renal (ureia e creatinina).


Quais são os sinais e/ou sintomas que podem surgir?
O sinal principal é frequentemente a alteração da cor da urina. Os pais podem notar uma coloração avermelhada ou semelhante a "coca-cola". Por vezes pode parecer que a urina faz "espuma". E em alguns casos pode ocorrer diminuição da quantidade de urina produzida.
O aumento da tensão arterial da criança faz com que esta tenha dores de cabeça, náuseas ou vómitos (em casos graves, pode mesmo originar convulsões).
Pode ocorrer um aumento do peso da criança devido ao edema da cara e do corpo (mais visível nas pálpebras quando a criança acorda de manhã). Em casos graves este edema pode conduzir a problemas cardíacos ou respiratórios. O sinal de alarme nesta situação é a dificuldade respiratória.
Podem também surgir alterações na pele, dor nas articulações, febre, perda de apetite, dor abdominal ou diarreia.
Em algumas crianças esta síndrome surge alguns dias ou semanas após uma infeção da pele, das vias respiratórias ou do sistema digestivo.


Quais são as causas desta síndrome?
Geralmente esta síndrome está associada a várias doenças.
A unidade básica do nosso rim é o glomérulo, e quando este está afetado, a doença designa-se por glomerulonefrite. Neste caso, existe inflamação das células do rim. Existem várias causas de glomerulonefrite, mas a principal causa é a infeciosa.
As glomerulonefrites podem ser classificadas como primárias ou secundárias:
- primárias: o rim é o principal órgão afetado (por exemplo: glomerulonefrite membranoproliferativa, glomerulonefrite mesangioproliferativa, etc);
- secundárias: doenças que envolvem o rim e outros órgãos (por exemplo: lúpus eritematoso sistémico, púrpura de Henoch-Schonlein, poliartrite nodosa, síndrome de Alport, nefropatia de IgA, etc.);
Quando as estruturas afetadas são os túbulos ou o interstício, a doença designa-se por tubulointersticial. Nestes casos, determinados estímulos como uma infeção, um medicamento ou uma alteração do metabolismo do organismo podem iniciar um processo inflamatório. Os sintomas e as alterações nas análises serão diferentes consoante o segmento do túbulo envolvido.
A associação familiar pode estar presente, por isso deverá ser perguntado aos pais se há casos de surdez ou doenças renais na família (por exemplo: síndrome de Alport).


Como se faz o diagnóstico?
Como já foi discutido acima, o diagnóstico desta síndrome baseia-se em sinais clínicos (tensão arterial superior ao percentil 95, aumento do peso e diminuição da quantidade de urina) e/ou laboratoriais (análises e colheita de urina).
A ecografia renal poderá ser realizada para excluir outras causas.
Quando os sinais clínicos ou as alterações nas análises se mantêm, poderá ser necessário fazer uma biopsia ao rim.


Se o meu filho tiver síndrome nefrítico deve ficar internado?
Sim! O internamento está indicado para o controlo do peso, da tensão arterial, da quantidade de urina produzida, da ingestão de líquidos e de sal e de possíveis alterações da consciência. Assim como para o controlo das análises da função renal e para o tratamento dos sinais clínicos. Estes atos são essenciais para a prevenção de complicações no futuro.


Como é feito o tratamento?
O tratamento da hipertensão pode incluir alterações na alimentação da criança e também o uso de medicamentos anti-hipertensores como os diuréticos (por exemplo: furosemida) ou outros (por exemplo: nifedipina, amlodipina ou captopril).
Para a correção das alterações no equilíbrio da água e dos iões (sódio, potássio e cloro) são usadas medidas na alimentação da criança e também o "soro" (fluidoterapia endovenosa).
A diálise poderá ser necessária nos casos de insuficiência renal aguda que não responde a outros tratamentos.
A utilização de corticóides e de agentes imunossupressores poderá ser útil em alguns casos.


Como é feito o seguimento após a alta hospitalar?
A criança ficará a ser seguida em consulta de nefrologia, onde irá repetir análises após seis a oito semanas da alta hospitalar.
Os pais deverão registar uma vez por semana a tensão arterial, o peso e a tira do teste urinário (Combur®).


Qual é o prognóstico?
Na maioria dos casos, o prognóstico é bom, permitindo a recuperação da função renal e o desaparecimento da hematúria e da hipertensão num prazo médio de duas semanas. A proteinúria pode manter-se durante cerca de três meses sem significado nocivo e a hematúria microscópica prolongar-se até doze meses sem invalidar a evolução no sentido da cura.
Quando estamos perante uma glomerulonefrite pós-infeciosa o prognóstico é excelente, e as recorrências são raras.
No caso das doenças tubulointersticiais, o prognóstico depende da doença subjacente.
No futuro poderão surgir complicações secundárias à hipertensão arterial ou a doença renal crónica. Portanto, um conhecimento aprofundado acerca da síndrome nefrítico é importante na medida em que fortalece o cumprimento da terapêutica e a adoção de estilos de vida saudáveis (manutenção do peso, exercício físico diário e alimentação equilibrada).


Maria Miguel Gomes, com a colaboração de Helena Silva, Pediatra do Serviço de Pediatria do Hospital de Braga.

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